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A mudança na nomenclatura para as doenças causadas por infecções cuja forma de transmissão mais recorrente é o contato sexual reflete um importante aspecto dessa classe de agentes biológicos: em muitos casos, as agora chamadas ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) são assintomáticas.
Isso faz com que muitos portadores de ISTs transmitam as infecções sem saber, fazendo dessa classe de doenças uma das mais recorrentes e de difícil controle na população mundial.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que surjam, anualmente, cerca de 376 milhões de novos casos de ISTs, em sua maioria relacionados a diagnósticos de tricomoníase, sífilis, clamídia e gonorreia – todas curáveis.
Entre elas, a clamídia e a gonorreia afetam diretamente a saúde reprodutiva de homens e mulheres e, quando não é tratada adequadamente, pode gerar um quadro de infertilidade.
A idade média das pessoas que mais apresentam diagnósticos positivos de ISTs é bastante ampla: entre 14 e 49 anos – ou seja, a maior parte dos contágios acontece durante a vida reprodutiva, fazendo da infertilidade decorrente das ISTs um problema realmente relevante.
A principal forma de prevenção de qualquer IST é o uso de preservativos de barreira, popularmente conhecidos como camisinhas. Tanto os modelos femininos, quanto os masculinos – mais comuns e conhecidos – oferecem altas taxas de proteção contra a contaminação por ISTs.
Este texto aborda a relação entre as ISTs e a infertilidade e apresenta algumas possibilidades de tratamento para aqueles que desejam ter filhos.
O Ministério da Saúde adotou, em 2016, a nova nomenclatura da OMS para designar as infecções transmitidas principalmente por via sexual, que sugere a substituição do termo DST (doença sexualmente transmissível) por IST ou infecção sexualmente transmissível.
O novo termo é mais adequado por abranger também infecções que apresentam períodos naturalmente assintomáticos (sífilis, herpes genital e HPV) ou que nunca apresentem sintomas (HPV e herpes), enquanto doenças é um termo que se refere apenas às condições que têm manifestações sintomáticas.
O que reúne todas as ISTs em um único grupo é a forma de o contágio central acontecer pelo contato sexual, ainda que muitas delas possam ser contraídas também por outras vias, como pelo sangue e hemoderivados ou por transmissão vertical (da mãe para o bebê, durante a gestação ou amamentação).
Embora cada doença tenha um conjunto de sintomas específicos, a maior parte das ISTs tende a provocar um conjunto de sinais semelhantes, incluindo corrimento vaginal e uretral, disúria (dor ao urinar), úlceras genitais e dor abdominal.
A classificação das ISTs mais aceita hoje ainda divide as infecções pelos tipos de microrganismos que as causam: bacterianas, virais, fúngicas e causadas por outros agentes biológicos. Vamos falar apenas de algumas.
As infecções bacterianas são praticamente todas tratáveis, porém é importante que sejam administrados os antibióticos corretos, pois a maior parte das cepas dessas bactérias, atualmente, apresenta resistência aos antibióticos mais comuns.
Esse é o tipo de IST mais recorrente entre as pessoas sexualmente ativas e, entre todas, aquelas mais comuns são gonorreia, clamídia e sífilis.
As infecções causadas por vírus não têm cura, mas tratamentos de controle atualmente conseguem diminuir a carga viral e, com isso, as taxas de contágio, além de melhorar a qualidade de vida da pessoa contaminada. Uma das mais conhecidas é o papilomavírus humano ou HPV.
Todas as ISTs têm potencial para prejudicar a vida sexual daqueles que as contraem, já que muitas vezes os sintomas são dolorosos e constrangedores. Além disso, algumas delas também podem afetar a capacidade de ter filhos.
As infecções causadas pelas bactérias Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, especialmente quando não tratadas de forma precoce, podem afetar a função reprodutiva de homens e mulheres.
Nas mulheres, a clamídia e a gonorreia estão relacionadas a quadros de DIP (doença inflamatória pélvica) e, especialmente quando afetam as tubas uterinas, podem causar quadros de hidrossalpinge e reações inflamatórias que obstruem o interior dessas estruturas, dificultando a fecundação.
Quando afetam o endométrio, essas bactérias também podem prejudicar severamente a receptividade endometrial, por desencadear reações inflamatórias locais. Nesses casos, a infertilidade se manifesta pela recorrência de abortos espontâneos, já que a fecundação acontece, mas o endométrio pode rejeitar o embrião.
Nos homens, a clamídia e a gonorreia podem provocar obstrução dos ductos que conduzem o sêmen, dependendo da estrutura acometida pela infecção: epidídimos (epididimite), testículos (orquite) e a uretra (uretrite).
A inflamação do epidídimo e testículos pode levar à infertilidade por azoospermia obstrutiva, enquanto nos casos de uretrite os espermatozoides encontram alterações no ambiente uretral, produzidas pela infecção, que danificam as células reprodutivas durante a ejaculação.

Ainda que algumas ISTs tenham vacinas, como o HPV, a única forma realmente efetiva de prevenção das ISTs é o uso de preservativos de barreira.
Isso porque os agentes biológicos envolvidos nas infecções podem ser transmitidos pela troca de fluidos genitais, mas também através de microfissuras causadas pelo próprio atrito da relação sexual, mesmo sem penetração.
O diagnóstico das ISTs pode ser feito tanto por testagens rápidas e específicas, como é o caso dos testes de HIV, sífilis e hepatites, realizados com uma gota de sangue, coletada por picada no dedo e cujo resultado sai em 30 minutos.
As demais ISTs podem ser detectadas por exames clínicos e laboratoriais. Os exames clínicos devem observar alterações nos órgãos genitais, como hipersensibilidade, inchaço, vermelhidão, lesões aparentes e presença de pus.
Dentre os exames laboratoriais, destacam-se os de urina, urocultura, coleta de secreção para análise e exames de sangue com detecção específica para os anticorpos de cada doença.
O tratamento das ISTs bacterianas, especialmente a clamídia e gonorreia, é feito com antibióticos específicos, normalmente administrados em dose única. Normalmente as parcerias sexuais devem ser também tratadas para evitar que a contaminação aconteça novamente, e ambos devem abster-se de relações sexuais até que a infecção seja erradicada.
É importante lembrar que, quanto mais precoce o tratamento para qualquer IST, maior as chances de reverter qualquer consequência das ISTs, já que doenças como a clamídia e a gonorreia podem deixar sequelas que afetam a capacidade reprodutiva de homens e mulheres de forma definitiva.
Nesses casos, a reprodução assistida pode oferecer saídas interessantes, como a IA (inseminação artificial) com sêmen próprio ou por doação de sêmen, para os casos em que o dano à espermatogênese é severo, e a FIV (fertilização in vitro) para todos os casos em que a fertilidade de homens e mulheres tenha sido afetada.
Para saber mais sobre este assunto tão importante, veja um texto especial sobre infertilidade feminina.
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