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A dor é uma resposta fisiológica normalmente associada a processos inflamatórios quando lesões e alterações anormais aparecem em diversos locais do corpo e serve justamente para sinalizar que algo errado aconteceu.
Alguns tipos de dor que afetam especialmente as mulheres, no entanto, foram culturalmente normalizadas: a cólica menstrual, a dor pélvica, o incômodo ao urinar e a dor na relação sexual.
A mulher acaba suportando a dor e não procurando atendimento médico por acreditar que é normal sentir algum grau de dor nas situações mencionadas – mas isso não é verdade.
Além dos prejuízos físicos e psicossociais causados pelo sofrimento e desconfortos decorrentes da dor na relação – assunto deste texto –, a infertilidade feminina também pode ser uma consequência de quadros em que a mulher apresenta esse tipo de dor como um dos sintomas.
Daí a importância de buscar atendimento médico e diagnóstico quando a dor em geral é um sintoma.
Continue a leitura e entenda a complexa relação entre a dor na relação e a possibilidade de infertilidade.
A mulher pode sentir diferentes tipos de dor na relação, especialmente quando há penetração:
A dor na relação pode ser mais aguda durante a relação sexual, mas pode ser persistente também, e a mulher continua sentindo incômodo mesmo algumas horas após o ato.
O cenário mais comum nos casos de dor na relação é a inflamação de estruturas como o canal vaginal, colo do útero e endométrio, já que a dor é um dos sintomas clássicos da inflamação.
A inflamação é uma resposta imunológica a lesões mecânicas, químicas e processos infecciosos, cujo objetivo é acionar células e mecanismos de defesa que possam combater e cicatrizar essas lesões. Durante o processo inflamatório, o tecido inflamado fica hipersensível (além de inchado e quente), provocando sintomas dolorosos.
As principais doenças que afetam o aparelho reprodutivo feminino e frequentemente têm a dor na relação ou dispareunia como sintoma podem ser encontradas na lista a seguir:
A princípio, qualquer alteração no ambiente do trajeto percorrido pelos espermatozoides até o óvulo – canal vaginal, colo do útero, fundo do útero e tubas uterinas –, muitas vezes associado a dor na relação, pode prejudicar a performance dessas células diminuindo as chances de fecundação, mesmo que minimamente.
É o caso das vaginites, provocadas por ISTs e outros microrganismos, que tornam o canal vaginal hipersensível, causando dor na relação, mas somente oferecem riscos à fertilidade da mulher quando a infecção não é tratada e se espalha para estruturas mais internas, como o endométrio, no útero.
As outras condições, contudo, oferecem obstáculos mais complexos, além da possibilidade de dor na relação, chegando a impedir a fecundação e prejudicar a fixação do embrião no útero – o que traz riscos reais de infertilidade feminina.
As doenças uterinas – endometrite, adenomiose, mioma e pólipo uterinos – afetam precisamente a receptividade do útero ao embrião e favorecem quadros em que a mulher não consegue engravidar e aborto de repetição.
Quando a endometriose afeta o peritônio ao redor do útero, a bexiga e parte do intestino, pode provocar dor na relação, enquanto se alojado nas tubas pode obstruir esses ductos e impedir a fecundação.
Considerando que a mulher pode apresentar implantes de endometriose em diversas regiões da cavidade pélvica simultaneamente, os dois sintomas podem estar associados.
As diversas condições e doenças que podem provocar dor na relação têm tratamentos específicos, realizados após um rigoroso processo diagnóstico – que é essencial para delinear de forma personalizada as abordagens terapêuticas mais adequadas para cada caso.
O diagnóstico dessas doenças pode ser feito por testagens laboratoriais, no caso das condições infecciosas, para identificar os microrganismos envolvidos na infecção, tornando possível escolher os antibióticos, antivirais e antifúngicos mais adequados.
As doenças uterinas mencionadas, por promoverem o crescimento de massas celulares de diversas origens e composições, podem ser diagnosticadas por exames de imagem, como a ultrassonografia pélvica, histerossalpingografia, histeroscopia ambulatorial e videolaparoscopia.
O tratamento dessas doenças pode ser farmacológico, com medicamentos hormonais – para regular o crescimento dos implantes de endometriose, miomas, pólipos e nódulos de adenomiose – e anti-inflamatórios – para o controle dos sintomas dolorosos, inclusive a dor na relação.
Nos casos mais severos, essas doenças podem receber indicação para intervenção cirúrgica com objetivo de retirar as formações celulares e até mesmo os próprios órgãos reprodutivos – embora esse seja um procedimento extremo, realizado somente quando não há outra forma de controlar os sintomas.
A infertilidade pode ser uma consequência primária das doenças e condições que provocam dor na relação, quando as tubas são obstruídas e quando a receptividade endometrial fica comprometida – e o casal pode receber indicação para reprodução assistida, mesmo após os tratamentos primários.
Além disso, alguns tratamentos – como a histerectomia (retirada do útero), a ooforectomia (retirada dos ovários) – podem provocar um quadro de infertilidade permanente, que somente pode ser abordado pela reprodução assistida.
A medicina reprodutiva conta hoje com três técnicas principais: os procedimentos de baixa complexidade – RSP (relação sexual programada) e IA (inseminação artificial) – e de alta complexidade – FIV (fertilização in vitro).
A indicação de cada técnica depende das causas da infertilidade conjugal, que deve envolver uma investigação diagnóstica completa, mesmo na ausência de sintomas no parceiro.
Entre as doenças mencionadas neste texto, a endometriose é um exemplo de condição que pode receber indicação para reprodução assistida.
Leia mais sobre a endometriose tocando neste link.
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