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A fertilidade dos homens e mulheres é uma função essencial e dependente do papel de alguns hormônios específicos – como o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) e os hormônios sexuais.
Os hormônios são parte fundamental do metabolismo do corpo como um todo, interagindo com praticamente todos os sistemas e controlando as funções de muitos órgãos e estruturas. Mais frequentemente produzidos pelas glândulas, na maior parte das vezes a produção dessas substâncias é controlada também por outros hormônios.
O GnRH, de forma peculiar, é produzido pelos neurônios do hipotálamo, ligados diretamente ao sistema nervoso central, e só circula localmente, no cérebro – sendo por isso um neuro-hormônio –, modificando o funcionamento da hipófise, outra estrutura (esta sim, uma glândula) localizada na mesma região.
Com a leitura deste texto, você vai entender melhor o que é o GnRH e seus papéis na fertilidade humana, inclusive no contexto dos tratamentos com reprodução assistida.
O hipotálamo é uma região do cérebro composta por neurônios que produzem neurotransmissores e neuro-hormônios, cujas funções normalmente estão associadas à interação com a hipófise – uma estrutura também cerebral, mas mista: formada em parte por células glandulares, que produzem diversos hormônios lançados na corrente sanguínea, além de outros tipos celulares.
É no hipotálamo que o GnRH é produzido. Este neuro-hormônio induz uma região específica da hipófise (adeno hipófise) a iniciar a liberação de FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante): as gonadotrofinas.
As gonadotrofinas são hormônios que interagem especificamente com as gônadas (ovários e testículos), para secreção dos hormônios sexuais, além da produção e amadurecimento de células reprodutivas (óvulos e espermatozoides).
O GnRH é o passo inicial do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal – também chamado HHG – em que essas estruturas interagem e se autorregulam para que homens e mulheres possam ser férteis e sexualmente maduros.
A produção de GnRH na infância é praticamente irrelevante e este hormônio começa a ser mais importante somente a partir do período que antecede a puberdade, quando sua produção se modifica e se intensifica, produzindo as alterações próprias da puberdade.
O que muda neste momento é a frequência na produção de GnRH, que era baixa e contínua, passando a ser intensa e pulsátil. A secreção de cada gonadotrofina é determinada pela frequência desses pulsos:
De forma geral, podemos dizer que o FSH atua no recrutamento folicular para a ovulação e no amadurecimento dos espermatozoides, enquanto o LH participa da produção de testosterona (em homens e mulheres) e progesterona (só em mulheres). Os estrogênios são produzidos no corpo masculino e feminino, em proporções bastante diversas, quando o FSH converte androgênios, como a testosterona, em estrogênios.
Nesse sentido, o controle do GnRH é feito por feedback negativo, ou seja, quando os hormônios produzidos pela interação das gonadotrofinas com ovários e testículos atingem altas concentrações, sinalizando ao hipotálamo que interrompa a produção de GnRH. Essa inibição do GnRH se mantém até que os níveis desses hormônios sexuais diminuem, quando normalmente é retomada.
De um ponto de vista mais amplo, a duração dos pulsos de GnRH é diferente em homens e mulheres, o que resulta em funções reprodutivas masculinas e femininas com dinâmicas também diferentes.
Os pulsos de GnRH são constantes nos homens, e por isso a produção de espermatozoides e testosterona é bastante estável.
No corpo das mulheres, porém, os pulsos de baixa e alta frequência do GnRH são localizados: ambos ocorrem em toda a fase folicular, do ciclo menstrual, mas diminuem gradualmente na fase lútea e pouco antes da mulher menstruar, não há produção de GnRH.
Nas mulheres, a cada ciclo reprodutivo a menstruação marca a retomada gradual da secreção de GnRH e com isso a liberação também gradual de FSH e LH, que encontram receptores nas células da granulosa e da teca, respectivamente, que compõem os folículos ovarianos.
Ao interagir com as células da granulosa, o FSH recruta um grande número de folículos para participar dos processos pré-ovulatórios, ao mesmo tempo que converte a testosterona produzida pela interação do LH com as células da teca, em estrogênio, fazendo com que este hormônio também aumente sua concentração gradualmente.
Entre a menstruação e a ovulação, a produção de GnRH é crescente e a ovulação acontece quando as gonadotrofinas e os estrogênios atingem seu pico máximo de concentração.
Com a liberação do óvulo, o LH ainda circulante transforma em corpo lúteo as células do folículo dominante que permanecem no ovário, iniciando a produção de progesterona. Nesse momento, a produção de GnRH é interrompida pela ação da progesterona e da inibina, também produzida pelo corpo lúteo.
Se a fecundação não acontece, a ausência de GnRH impede que o LH seja liberado para manutenção do corpo lúteo, que regride e interrompe a produção de progesterona e estrogênio.
Contudo, quando a fecundação acontece, o GnRH permanece inibido durante toda a gravidez, já que os níveis de progesterona são constantes: inicialmente mantidos pela produção de hCG (gonadotrofina coriônica humana), que continua estimulando o corpo lúteo, e depois pela placenta.
No contexto da reprodução assistida o GnRH pode ser um elemento essencial da estimulação ovariana, que é a etapa inicial de todas as técnicas de reprodução assistida – RSP (relação sexual programada), IA (inseminação artificial) e FIV (fertilização in vitro).
A estimulação ovariana é feita com a administração de doses variáveis de uma medicação hormonal cujo objetivo é induzir os processos que levam à ovulação. Essa medicação pode ser à base das próprias gonadotrofinas, mas também de análogos medicamentosos do GnRH, que desempenham as mesmas funções do hormônio original.
Por induzir a ovulação, a estimulação ovariana é uma das principais ferramentas das técnicas de reprodução assistida para o tratamento específico da infertilidade feminina.
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