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A integridade do sistema reprodutivo feminino é essencial para a fertilidade conjugal, especialmente porque além de disponibilizar células reprodutivas, como os homens, as mulheres também precisam passar por toda a gestação e o parto.
Por isso, lesões em quaisquer das estruturas reprodutivas feminina podem, de forma geral, oferecer algum risco à função reprodutiva e, consequentemente, algum grau de infertilidade feminina.
Mesmo após os tratamentos para essas lesões, o local lesionado pode formar tecido cicatricial inativo – que chamamos sinequias -, que também tem potencial para prejudicar o funcionamento das estruturas lesionadas.
Neste texto vamos falar mais sobre as sinequias, especialmente a forma como é feito o diagnóstico dessas aderências e as opções de tratamento que a mulher tem nestes casos, incluindo a reprodução assistida. Boa leitura!
As sinequias são aderências que podem se formar na parede uterina e estão principalmente localizadas na camada basal do endométrio, como resultado do processo de cicatrização de lesões anteriores, que podem ter origens diversas:
O endométrio é a camada de revestimento da cavidade uterina, formado por células que respondem ativamente à dinâmica hormonal do ciclo reprodutivo. Dependendo da fase do ciclo, essas células se modificam de diversas formas, inclusive multiplicando-se para tornar o endométrio espesso e receptivo a um possível embrião.
A integridade deste tecido é determinante para que qualquer gestação tenha início, seja ela obtida por vias naturais ou com tratamentos em reprodução assistida.
Justamente porque são resultado da formação de cicatrizes em locais onde antes havia lesões, as sinequias não podem ser classificadas como uma doença. Contudo, especialmente quando o tecido cicatricial é mais robusto e as cicatrizes são numerosas, estas podem atravessar a cavidade uterina, conectando pontos originalmente distantes da parede do útero.
Esse quadro mais desenvolvido das sinequias é chamado síndrome de Asherman, em que o funcionamento do endométrio é prejudicado de forma mais intensa, tanto pela redução na receptividade uterina para a nidação, como pela diminuição do espaço disponível para a gravidez, caso ela aconteça.
As mulheres com sinequias normalmente são assintomáticas quando possuem poucas e pequenas aderências, que embora possam prejudicar a fertilidade, não necessariamente representam um impedimento mais complicado à gravidez.
No entanto, especialmente quando as sinequias são maiores e nos casos de síndrome de Asherman, a mulher pode apresentar alterações menstruais e outros sintomas, como:
O diagnóstico das sinequias tem início com o acolhimento dos sintomas relatados na consulta médica, quando estão presentes, e a análise do histórico de saúde pessoal da mulher. Cirurgias pregressas associadas aos sintomas listados ‒ especialmente à infertilidade ‒ podem levantar suspeita para sinequias e encaminhar a solicitação de exames mais específicos.
Como as sinequias são justamente cicatrizes que formam aderências na cavidade uterina, os procedimentos utilizados para identificar as sinequias são principalmente exames de imagem, como a ultrassonografia pélvica transvaginal.
O ultrassom transvaginal pode ser feito também na primeira consulta, por ser um exame simples e abrangente, que ainda assim oferece imagens de qualidade sobre a cavidade uterina. A confirmação diagnóstica pode ser feita também com outros exames de imagem, como a ressonância magnética.
É importante ressaltar que a confirmação diagnóstica somente é feita com os resultados dos exames de imagem, que podem realmente identificar corretamente as sinequias, compreender a situação do útero e as possibilidades de síndrome de Asherman.
As sinequias somente podem ser tratadas de forma cirúrgica, com a retirada das aderências cicatriciais ‒ o que normalmente é feito por histeroscopia cirúrgica.
Contudo, a indicação da cirurgia para retirada das sinequias depende da intensidade dos sintomas apresentados pela mulher e também de seus desejos reprodutivos.
Isso porque, embora a retirada das sinequias seja feita por histeroscopia, que é um procedimento não invasivo (sem cortes) com uma recuperação pós-cirúrgica mais tranquila, a cirurgia só é indicada quando existem sintomas e quando a mulher deseja engravidar.
Dependendo da quantidade de sinequias, do grau de comprometimento da função uterina e da redução no espaço disponível para o desenvolvimento do bebê, a fertilidade pode ser seriamente comprometida e somente a retirada das sinequias pode restaurar as chances de engravidar por vias naturais.
Casais que têm indicação para reprodução assistida com diagnóstico de sinequia ‒ mesmo com outros fatores de infertilidade presentes no diagnóstico geral ‒ precisam passar pela retirada das sinequias, já que as aderências podem diminuir as taxas de sucesso de qualquer técnica disponível atualmente.
A mulher pode dar início aos tratamentos com reprodução assistida após a recuperação da cirurgia de retirada das sinequias.
Os casos mais graves, que incluem a síndrome de Asherman, a função uterina pode ser totalmente comprometida pelas sinequias, fazendo com que a cessão temporária de útero ‒ que só é possível em tratamentos com a FIV (fertilização in vitro) ‒ seja a única forma de ter filhos.
Leia mais sobre infertilidade feminina tocando neste link.
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