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Durante muito tempo achou-se que todos os casos de infertilidade conjugal eram decorrentes de problemas exclusivamente ligados à saúde do sistema reprodutor e endócrino das mulheres.
Hoje, no entanto, a infertilidade masculina é mais conhecida e sabemos que também os homens podem apresentar alterações causadas por doenças e condições que podem, sim, afetar significativamente sua capacidade de procriar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a incidência de infertilidade por fator masculino é bastante semelhante aos números relativos à infertilidade conjugal por fator feminino.
Isso fez com que as pesquisas relacionadas à fertilidade masculina sofressem um ligeiro atraso, o que vem mudando expressivamente, principalmente desde a década de 1990.
Alguns procedimentos foram desenvolvidos para potencializar as taxas de gestação das técnicas de reprodução assistida com foco especial na infertilidade masculina, como a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) – usada na FIV (fertilização in vitro) e que melhora as chances de sucesso da fecundação ao injetar o espermatozoide selecionado dentro do óvulo – e o preparo seminal.
O preparo seminal pode ser feito por duas técnicas diferentes principais e tem como objetivo separar os espermatozoides de uma amostra de sêmen segundo sua morfologia e motilidade em subamostras contendo os melhores gametas, selecionados e utilizados nos tratamentos de reprodução assistida.
Atualmente, o preparo seminal é indicado para os casos de azoospermia ou problemas causados por alterações nos parâmetros seminais, aumentando as taxas de gestação tanto na FIV quanto na IA (inseminação artificial).
O objetivo deste texto é mostrar como é feito o preparo seminal e quais são suas indicações.
Aproveite a leitura!
O sêmen ou esperma é o líquido expelido durante a ejaculação, contendo os espermatozoides submersos em uma solução viscosa, composta pela mistura dos líquidos produzidos pelas glândulas anexas ao sistema reprodutor masculino – próstata, vesículas seminais e glândulas bulbouretrais.
A boa qualidade do sêmen é diretamente proporcional à capacidade reprodutiva dos homens e depende da normalidade de alguns parâmetros relacionados tanto aos espermatozoides quanto aos líquidos glandulares.
Os parâmetros seminais relacionados aos espermatozoides versam sobre sua morfologia (integridade física), motilidade (capacidade de se locomover) e concentração desses gametas por ml de sêmen. Já aqueles que buscam descrever a qualidade dos líquidos glandulares observam o pH (que deve ser ligeiramente alcalino), a viscosidade e a capacidade de liquefação do sêmen.
A infertilidade masculina é identificada primeiramente pelo espermograma, que mensura esses parâmetros seminais em busca de alterações que estejam atrapalhando ou impedindo a fecundação – e é causada principalmente pelos quadros de:
Nos casos de azoospermia obstrutiva, quando a ausência de espermatozoides no sêmen é decorrente de obstruções no cordão espermático, que impedem a passagem dos espermatozoides, alguns tratamentos de desobstrução e reconstituição cirúrgica desses canais podem restaurar a fertilidade.
No entanto, em muitos casos, a infertilidade é causada por problemas na produção de espermatozoides viáveis, para os quais a reprodução assistida costuma ser uma via de tratamento das mais bem-sucedidas.

O preparo seminal é um procedimento feito para aumentar as taxas de sucesso de técnicas em reprodução assistida, especialmente a IA e a FIV.
O objetivo do preparo seminal é separar os espermatozoides saudáveis e viáveis daqueles acometidos por problemas relacionados à concentração, morfologia e motilidade espermáticas, e o procedimento pode ser feito com uma amostra de sêmen, obtida normalmente por masturbação.
O preparo seminal é realizado nas técnicas de reprodução assistida um pouco antes da inseminação, nos casos de IA, ou da fecundação acontecer em laboratório, na FIV.
A amostra deve ser coletada de forma semelhante ao procedimento feito para o espermograma: em ambiente discreto, na própria clínica e obedecendo às condutas de higiene, que incluem a lavagem e secagem do órgão genital e das mãos.
Duas são as formas de realizar o preparo seminal, atualmente, em laboratório: gradiente descontínuo de densidade e swim-up, como veremos a seguir.
O gradiente descontínuo de densidade é uma técnica desenvolvida partindo do princípio que espermatozoides viáveis e saudáveis devem conseguir se locomover dentro de um gradiente de densidades diferentes, e aqueles que apresentam dificuldades morfológicas ou de motilidade teriam mais dificuldade.
Nessa técnica, à amostra de sêmen são misturadas substâncias que impõem gradientes de densidade e essa mistura é submetida a uma força centrífuga, durante um tempo determinado, induzindo a movimentação dos espermatozoides.
Ao final da centrifugação das amostras, os espermatozoides viáveis estão concentrados no fundo dos tubos de ensaio e aqueles inviáveis, bem como outras partículas do sêmen, ficam separados dos primeiros e concentrados na superfície dos tubos de ensaio.
Na técnica de migração ascendente, é principalmente a motilidade dos espermatozoides o fator de seleção dos mais saudáveis e viáveis. À amostra de sêmen contida no tubo de ensaio é adicionado um meio de cultura adequado e este conjunto é submetido a uma força centrífuga.
Os espermatozoides viáveis e com boa motilidade nadarão para a superfície dos tubos de ensaio, enquanto aqueles com problemas relacionados a esses parâmetros seminais ficarão concentrados no fundo dos tubos de ensaio.
Após o preparo seminal em ambas as técnicas, os espermatozoides selecionados são levados para a incubadora, até o momento da sua utilização na reprodução assistida.
O preparo seminal é fundamental para as taxas de sucesso dos tratamentos de reprodução assistida que usam essa técnica, como já mencionamos, a IA e a FIV, já que permite a seleção de espermatozoides viáveis mesmo em amostras de sêmen vindas de homens com problemas reprodutivos.
Nos casos de infertilidade masculina por fatores obstrutivos, no entanto, é necessário realizar as técnicas de recuperação espermática, que permitem a coleta de espermatozoides diretamente nos testículos (TESE e micro-TESE) ou nos epidídimos (PESA e MESA).
Para saber mais sobre o preparo seminal, leia este texto.
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