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O sistema reprodutor feminino é um complexo de estruturas que funcionam em conjunto para desempenhar três papéis centrais na fertilidade das mulheres: a preparação e disponibilização das células reprodutivas femininas (óvulos), com a ovulação; a recepção dos espermatozoides para a fecundação; e a manutenção das condições ideais para que a gestação aconteça, até o parto.
Todas as estruturas reprodutivas atuam em conjunto, mas podemos dizer que cada uma das tarefas mencionadas é dominada por um dos órgãos reprodutivos: útero, tubas uterinas e ovários.
Quando esses órgãos são lesionados, suas funções podem ser prejudicadas e a função reprodutiva pode ser comprometida. Em algumas situações, mesmo a cicatrização dessas lesões pode resultar em aderências, que também afetam funcionalmente os órgãos reprodutivos.
A sinequia é um exemplo de aderência formada com a cicatrização de lesões mais frequentemente localizadas no endométrio e miométrio ‒ por isso chamada sinequia uterina.
Nem sempre a mulher com sinequia uterina tem sua fertilidade definitivamente comprometida, ainda que muitas possam de fato encontrar dificuldade para engravidar. Em alguns casos, no entanto, o quadro pode se agravar.
O diagnóstico da sinequia uterina não é complexo e, especialmente quando há desejo de engravidar e a doença é identificada precocemente, o tratamento oferece boas chances de sucesso na reversão da infertilidade.
Continue a leitura deste texto e entenda melhor o que é a sinequia uterina, quais exames ajudam a identificar a doença e as possibilidades de prejuízos à fertilidade que essas aderências podem trazer.
Como comentamos, as sinequias são aderências formadas nos órgãos do aparelho reprodutivo feminino que resultam da cicatrização de lesões anteriores e, entre elas, a sinequia uterina é diagnosticada especificamente quando a mulher apresenta essas cicatrizes na parede do útero.
Embora a sinequia uterina não seja uma lesão ativa, envolvida em um processo inflamatório – como o mioma, por exemplo–, a própria cicatrização pode resultar em áreas de tecido inativo, aderidos ao tecido original saudável.
A sinequia uterina pode ser única ou múltipla e pode estar totalmente aderida ao útero, mas também conectando áreas inicialmente distantes na cavidade uterina. Ainda, pode se restringir ao útero, porém, nos casos mais graves, também pode prejudicar a função das tubas uterinas.
Justamente por ser resultado da formação de um tecido cicatricial no útero, a sinequia uterina normalmente é precedida de lesões, cujas origens são diversas:
Ainda que muitas situações em que a mulher desenvolve sinequia uterina sejam derivadas de procedimentos cirúrgicos, é importante lembrar que nem toda cirurgia uterina resulta em aderências cicatriciais.
A formação desse tecido excedente depende de uma série de fatores altamente individuais, associados à forma como cada corpo lida com a cicatrização.
O diagnóstico da síndrome de Asherman normalmente é feito quando a mulher apresenta uma quantidade maior de sinequias uterinas.
Nessas situações, a quantidade de sinequias uterinas e sua disposição no útero podem comprometer a receptividade do endométrio e ocupar o espaço criado pela cavidade uterina e destinado ‒ de um ponto de vista reprodutivo ‒ ao crescimento do bebê.
Por isso, a mulher com síndrome de Asherman pode passar por episódios repetidos de perdas gestacionais, que configuram um quadro maior de aborto de repetição.
Em outros casos, a mulher pode sequer conseguir engravidar, já que a receptividade do endométrio para um possível embrião pode estar também comprometida pelas sinequias uterinas.
Como o tecido cicatricial que compõe a sinequia uterina não se torna inflamado – ao contrário, é um tecido cicatricial e por isso inativo–, é muito comum que a mulher não tome conhecimento dessas aderências, já que a condição não produz sintomas perceptíveis.
Nestes casos é frequente que o diagnóstico da sinequia uterina somente apareça com os exames ginecológicos de rotina e quando a mulher busca atendimento médico por encontrar dificuldades para engravidar.
No entanto, se a mulher apresenta uma quantidade maior de sinequias uterinas, configurando a síndrome de Asherman, alguns sintomas ligados à menstruação podem ser notados, como dismenorreia (menstruação dolorosa), amenorreia (ausência de menstruação) ou alterações significativas no fluxo menstrual.
O primeiro passo do processo diagnóstico é a abordagem dos sintomas, quando existem, e uma investigação sobre o histórico de saúde da mulher, com objetivo de buscar eventos que possam ter desencadeado a lesão e, consequentemente, a sinequia uterina.
A confirmação diagnóstica, no entanto, só é possível com a visualização nítida da sinequia uterina em exames de imagem – como a ultrassonografia pélvica transvaginal, um dos primeiros exames solicitados.
Outros exames, como a histerossalpingografia e a histeroscopia diagnóstica podem também ser úteis no processo investigativo da sinequia uterina. – assim como a ressonância magnética, um dos exames diferenciais mais utilizados.
A sinequia uterina somente pode ser tratada se retirada do útero ‒ o que só pode ser feito cirurgicamente.
Atualmente o procedimento mais bem sucedido e menos invasivo para essa cirurgia é a histeroscopia cirúrgica, que não demanda a realização de qualquer forma de incisão.
A reprodução assistida também é uma possibilidade de tratamento para a infertilidade feminina decorrente da presença das sinequias uterinas ‒ mais precisamente a FIV (fertilização in vitro).
A técnica pode ser utilizada para melhorar as chances de gravidez, por permitir um preparo endometrial prévio, já que os embriões podem ser congelados porque a fecundação é feita fora do útero.
A FIV também pode ajudar casais em que a mulher realmente não consegue mais gestar em função das sinequias uterinas recorrendo ao útero de substituição.
A infertilidade feminina é uma condição complexa, que pode ser resultado de diversas alterações: conheça mais detalhes sobre o assunto tocando neste link.
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